Definição
A Arte-Terapia/Psicoterapia destaca-se como um método de tratamento psíquico que utiliza mediadores artísticos no contexto de um processo terapêutico específico. Isto resulta numa relação terapêutica própria baseada na interação entre o sujeito (criador), o trabalho artístico (criação) e o/a arte-terapeuta/psicoterapeuta. O recurso à imaginação, simbolismo e metáforas enriquece o processo. As características acima referidas facilitam a comunicação, o ensaio de relações de objeto e a reorganização de objetos internos, uma expressão emocional significativa e um maior autoconhecimento, libertando assim a capacidade de pensar e a criatividade. (Ruy de Carvalho, 2001)
A Arte-Terapia/Psicoterapia possui parâmetros específicos baseados em mais de meio século de experiência clínica e outros parâmetros comuns a outros modelos psicoterapêuticos, dos quais no entanto difere na medida que integra a arte na relação terapêutica.
O arte-terapeuta/psicoterapeuta opta por orientar a sua abordagem para se focar em uma ou várias funções terapêuticas da arte: criação, gnose, manifestação, significação (2005) e esteticidade (2012), para além de outras. Sendo um dos participantes do processo, o arte-terapeuta/psicoterapeuta deverá possuir uma formação específica a qual lhe permite uma compreensão particular do processo do paciente e dos fenómenos relacionados com o ato de criar, tornando assim a sua intervenção significativa. Deste modo é proficiente a especificar os recursos técnicos artísticos de acordo com as suas potencialidades simbólicas, comunicacionais, criativas e de concretização.
A sua fundamentação científica específica engloba a psicopatologia expressiva e as teorias da criatividade, em particular as referentes ao desenvolvimento psíquico, à interação objetal e à estratificação da mente, designadas genericamente como psicodiagénesis. (Definição completada em 2017, Ruy Carvalho). O seu saber empossa-o da capacidade de implementar um gradiente de tratamento psíquico em que a ativação do aparelho criativo e das funções terapêuticas da arte, o fazer artístico, a significação inerente ao produto criativo, a manifestação pelo não verbal e a reflexão ou debate em torno do sentido estético agem sinergicamente propiciando a mudança, progresso e até cura dos indivíduos em processo.
Assim, o arte-terapeuta/psicoterapeuta deve possuir um conhecimento apropriado da teoria e técnica da Arte-Terapia/Psicoterapia, fundamentado na sua própria Arte-Psicoterapia pessoal e prática clínica.
Modelo Polimórfico de Arte-Terapia/Psicoterapia
O Modelo Polimórfico de Arte-Terapia/Psicoterapia compreende diferentes modos de intervenção com recurso à manifestação artística, com parâmetros processuais próprios.
A Arte Terapia caracteriza-se por intervenções planeadas e estruturadas previamente à sua implementação. Compreende dois modos de abordagem:
– Arte-Terapia Vivencial- Focada na utilização espontânea dos recursos técnicos artísticos.
-Arte-Terapia Temática- Caracterizada pela associação de temas aos recursos técnicos artísticos, focando e objetivando o ato criativo.
Quanto à Arte-Psicoterapia, esta pauta-se pela utilização espontânea e não planeada dos recursos técnicos artísticos e pela enfâse colocada na relação arte-psicoterapêutica. Comtemplam-se aqui dois modos de intervenção:
-Arte-Psicoterapia Intensiva- Compreende uma abordagem propícia a intervenções breves, onde a integração de mediadores e a interação intensiva com o arte-psicoterapeuta propiciam a catarse integradoras, afim da modulação psíquica.
– Arte-Psicoterapia Diagenésica- Corresponde a uma intervenção mais adequada a intervenções de longa duração, onde o arte-psicoterapeuta incentiva à criação artística espontânea, com intuito de significação e elaboração analítica, propiciadoras da reestruturação da personalidade.
Crescimento pessoal e expressão criativa
A musicalidade interna, a capacidade de se mover, de dançar, de pintar, de modelar e outros atos criativos, são comuns a todos nós. A criatividade é universal pertencendo ao fenómeno humano e não só a alguns seres talentosos.
Fundamentos teóricos e técnicos
De um ponto de vista lato poder-se-á falar de Artes-Terapias, considerando-as intervenções psicoterapêuticas que recorrem a mediadores artísticos: Pintura, Desenho, Modelagem, Escultura, Colagens, Drama e Jogos Dramáticos, Marionetas, Jogo de Areia, Expressão Corporal, Música, Canto, Poesia, Escrita Livre Criativa e Contos.
O entendimento do fenómeno psicológico em Arte-Terapia deverá ter em conta as perspetivas afetiva-relacional, existencial, cognitiva e psicodiagenésica.
A expressão artística é central nesta psicoterapia. Através do objeto de criação temos acesso a informação e registo sobre o que é, acerca de quê e para quê, como e porquê, sentimentos antes,no momento e após, sentido progressivo para o próprio e para os outros (se num grupo). Assim o objeto de arte tem uma função gnóstica, fornecendo ao sujeito informações sobre si próprio e ao Arte-Terapeuta um registo do processo.
No entanto o objeto de arte não interessa tanto pelo seu valor informativo, ou mesmo estético, mas sim pelo seu valor como mediador da manifestação emocional significativa, como veículo de elaboração e como ensaio do processo criativo. O contexto da criação artística não é usado para análise. O foco desta situar-se-á na relação terapêutica.
Em Arte-Terapia o papel do processo criativo na mudança é central, pretende-se fomentar nos clientes o uso da criatividade, como meio de entendimento do próprio e dos outros e na resolução de problemáticas existenciais.
A função do imaginário é fundamental em Arte-Terapia:
a) Para aceder a pensamentos, sentimentos, memórias, aspetos da personalidade e do self, alguns dos quais sem representação mental consciente e carecendo se serem integrados;
b) Para uma mais intensa e profunda compreensão do sentimento ou situação;
c) Para desenvolver a capacidade de intuir, consciencializar e agir através de opções criativas, evitando o recurso a uma cognição prematura e limitada, bem como à relação impulsiva.
A experiência artística pode intensificar a expressão de vivências, bem como incrementar o equilíbrio estético pela reconfiguração consciencializada de representações inconscientes e de afetos ligados ao sensorial. Através da mobilização das pulsões inerentes ao processo criativo próprio ao fazer artístico propicia-se a sua satisfação sublimada e modulação. A facilitação da tais transformações afins do significar integrado em tomadas de consciência pode ser importante para promover a riqueza, a vitalidade e a qualidade da vida psíquica. Imagens de transformação e mudança, representadas nas criações artísticas, dão expressão à função reparadora, no decurso do processo arte-terapêutico/psicoterapêutico.
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